quinta-feira, 29 de abril de 2010

"A viagem de um barquinho"

" Como é que alguém pode ser dono da liberdade do outro? Como é que você pode dizer que ama o seu barquinho e querer que ele seja seu? Ele é das ondas... talvez... mas as ondas vão e vem."



" Ser feliz para sempre me lembra chinelo, cor de burro quando foge e dia de chuvinha fina! Ser feliz é coisa de repente, é coisa de viagem, festa, maravilha! "


Silvia Ortoff

domingo, 18 de abril de 2010

Céu estrelado

Ao mesmo tempo que me enche os olhos de beleza
enche a minha alma de solidão.

terça-feira, 13 de abril de 2010

"Você não está por perto e ainda está tão perto"

Um dia desses, Menina se sentiu mãe da Mãe.

Pediu a Vó que a deixasse ver fotografias antigas. Vó lhe dera uma caixa cheia de fotos, misturadas. Fotos de Mãe pequena, com os irmãos pequenos. Foto de Vô fumando charuto, foto de Vó fumando cigarro (Vó não fuma mais e não gosta dessa foto). Fotos de Mãe no carnaval com amigos, foto do Primo de Vô, que ninguém lembrou o nome. Fotos do Natal passado, foto do Priminho que acabara de nascer. Fotos e mais fotos. Bagunçadas, dentro da caixa.
Mãe era bonita. Menina fica pensando como ela devia ser na sua idade. Que engraçadinha, essa foto. Então Vó entra com um caderno. O caderno da primeira série escolar de Mãe. Cheiro de guardado, folhas amareladas. Menina folheou. Desenhos de criança, letra desengonçada, palavras divertidamente despejadas no papel.

e foi aí que Menina se sentiu mãe da Mãe.

O que você quer?

O que VOCÊ quer?
O QUE você quer?
O que você QUER?!
O QUE VOCÊ QUER O QUE VC QUER O QUE VC QUER?

AHrg.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Havia alguma coisa

que nos separava. Mas eu sabia que mais me separava dele do que ele de mim. E essa alguma coisa ficou no meio do caminho da nossa relação. Impediu que acontecesse eu e ele, nós. Na verdade, nós nunca existimos de fato. Fomos sempre eu, fomos sempre ele. Mas nunca nós. A alguma coisa, no entanto, calhava de nos separar ainda mais. Não que percebêssemos, mas eu e ele sentíamos que não estávamos bem. Mesmo assim, tentamos ir para frente: alugamos um apartamento, compramos pratos e talheres, jogo de lençol. A casa tinha a cara dele, a casa tinha a minha cara. Criamos nossos laços, que não tardaram a virar nós. Infinitos nós nas conversas, no jantar, na cama. Nó na garganta. Alguma coisa está errada, meu amor, ele dizia. Eu sei, eu sei. Sabia mais do que ele, mas me fazia de sonsa, desacreditada. Na verdade, preferia acreditar no simples fato de que um dia o amor acaba, e só, só isso que acontecera entre a gente. O que acontecia, porém, é que o nosso amor nunca existiu. Talvez tenha existido uma paixão inicial, mas amor, nunca. Pelo menos, não de minha parte.
Foi numa manhã que acordei, e falei sem respirar: não te quero mais. E eu sei que você também não me quer. Acabamos com a farsa do lar. Ele para um lado, eu para outro, com as minhas coisas, ele, com as coisas dele. Até que foi fácil, nada tínhamos para repartir. Seremos apenas bons amigos, então? ele me disse, abrindo a porta da sala. Fiz que sim com a cabeça, pensando: afinal, é o que sempre fomos, nada mais do que bons amigos.
Hoje estou casada, hoje me sinto amor, janto amor, durmo amor. Meu marido e eu, somos nós. Mas até hoje penso no que faltou naquela minha outra história, a minha história com a história daquele com quem, por algum motivo, um dia eu quis ficar junto; mas alguma coisa não deu certo. Alguma coisa...