segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dentro do avião

O céu sempre a fascinara. Não só pelas suas nuvens gordas e macias, ou pela sua cor - para ela tão inexplicavelmente - azul, ou ainda por suas estrelas mortas e brilhantes.
É pelo infinito. O infinito enche seus olhos, toma suas mãos. Nunca conseguira pensar direito no infinito - um emaranhado de imagens disformes tomam seus pensamentos tão rápido como vão embora - e aí é tomada por um branco mental, um sentimento frio de um certo desespero. O infinito não se deixa pensar por ela. Olhando para o céu ela tenta compreender o que não cabe nos seus pensamentos. As nuvens são felizes. O infinito do céu é liberdade. Lá de cima ela vê a vida acontecendo, os automóveis se cruzando, a roda gigante girando. Tudo em câmera lenta. Lá de cima ela não vê as pessoas correndo, nem andando - não vê as pessoas. O mar de nuvens passa por cima de tudo, sereno, veludo. O avião aterrisa no barulho, na terra dura. Os meus pés no chão impõem o meu limite, é dali para cima. Dali para cima, até o fim do céu. Do começo da terra até o fim do céu.

Às vezes ela caminha olhando para o céu, vez ou outra alguma nuvem se desprende lá de cima e se espatifa no chão, perdendo o seu caminho, chegando no seu fim. À noite, a lua guarda o limite do céu.