Hoje viajei sozinha para campinas. Gosto de dirigir, a música alta, fui cantando... sentir o vento batendo no rosto. Sentir-se passarinho, foi o que eu disse na primeira vez que andei de moto. Assim, que nem quando a gente anda de bicicleta, descendo o morro. Leve, livre.
E aquela estrada, reta. Todo final de semana. Passa caminhão, cuidado com o radar, para na fila do pedágio. Pisquei os olhos umas duas vezes e, quando abri, tudo já estava com outras cores. Não vi mais os caminhões, a estrada reta, não me irritei com os apressados piscando farol. Percebi as árvores, os morros. Todo final de semana... é tão verde, e eu nunca percebi. Tão diferente, e para mim sempre foi igual.
E foi assim que eu cheguei em casa, com esses olhos desacostumados, que às vezes coloco em mim mesma para enxergar a vida. Queria usá-los mais. A vida se renova e tudo parece mais bonito. O sofá da sala, a casa da esquina. Alguns detalhes que eu esqueço de reparar, mas sempre soube estarem ali.
Lembro sempre de um dia, na aula de desenho. A professora, "Vamos, desenhe uma árvore assim, de memória". Tá legal. Uso verde e marrom? Mas também tem laranja, e amarelo e preto, talvez vermelho... e a textura das folhas, e os galhos, retorcidos? e são tantas ramificações! "Professora, me desculpe. Não sei desenhar uma árvore".
Por mais que eu saiba desses meus olhos viciados, não consigo usar sempre meus olhos novos. No dia-a-dia, esqueço, talvez. Ou então me acomodo com as imagens já 'gravadas', já acostumadas. Me acomodo com a superfície das coisas. Com os contornos. E deixo assim estar, sem me ater às costuras, às profundidades, às texturas e tudo o mais de belo, feio, estranho, exótico, enfim, que as coisas dessa vida têm.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
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2 comentários:
menina linda com uma veia poetica.....me chamou a atençao para as coisas que PAREI de ver.....
eu passarinho, eles passarão
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